Uma análise da situação da mulher na sociedade
Considerada a bíblia do feminismo e originalmente publicada em 1949, a obra “O Segundo Sexo” é uma das mais conhecidas de Simone de Beauvoir (1908-1986) e a consagrou como um importante nome da filosofia mundial. O seu livro gerou um grande escândalo em diversos âmbitos, como o da Igreja Católica (foi incluída na lista de publicações proibidas) e criticado de forma veemente por movimentos políticos da época, pois o texto tratava sobre o sexo feminino sem rodeios, analisando a vagina, a menstruação e o prazer feminino entre outros aspectos.
A obra é apresentada em dois volumes no Brasil: “Fatos e Mitos” e “A Experiência Vivida”. Em suas páginas, a autora analisa a condição da mulher na sociedade e suas múltiplas perspectivas (biológica, psicanalítica, materialista, histórica, literária e antropológica), esclarecendo que nenhuma delas é suficiente para definir a mulher, mas cada uma delas contribui significativamente para definir a mulher como a “outridade”, ou seja, “o outro” diante do ser masculino. No livro, está sua famosa afirmação: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”.
Uma reflexão sobre o corpo no centro do feminismo
O livro serviu de base para as ideias da chamada “segunda onda do feminismo”, que floresceu no início dos anos 1960, na Europa e América do Norte (a primeira foram os movimentos a favor do voto feminino no fim do século 19 e início do 20). À época com 41 anos, Simone deixou a linguagem rígida de suas obras iniciais e, deliberadamente, adotou uma abordagem mais simples para falar com leitoras distantes da academia sobre a experiência de ser mulher.
Se toda existência humana é, segundo ela, definida por sua localização, a “corporalidade” da mulher e os significados sociais que lhe são atribuídos têm condicionado a sua existência. Essa máxima tão simples e revolucionária para a época, continua ainda a ser alvo de reflexões até os dias de hoje em nossa sociedade. Isso porque o corpo da mulher ainda é submetido a diversos tabus e estereótipos que servem como desculpas para legitimar as mais variadas formas de discriminações sociais sofridas em nossa sociedade.
Uma leitura relevante para a mulher contemporânea
As formulações de Simone de Beauvoir ainda valem para a compreensão de velhas manobras patriarcais que ainda perduram até os dias de hoje em nossa sociedade (um período de alta tecnologia e de bastante informação graças à internet). Dessa forma, o livro “O Segundo Sexo” não se torna um livro superado com o tempo.
As questões que esta obra universal traz ainda são complexas e nos fazem pensar que pode existir sim outra lógica além de homens dominantes e mulheres a serem dominadas. Nele, a autora expõe seus pensamentos sobre a amplitude do universo feminino, fazendo com que as mulheres percebam e mudem suas geografias existenciais.
Hoje, seu legado continua a ser relevante para o movimento feminista, sendo uma referência importante para a compreensão das desigualdades de gênero e da luta pela igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres. O seu trabalho é uma valiosa fonte de inspiração na busca de uma sociedade mais justa e igualitária.