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As Horas (Prime Vídeo)

Três mulheres interligadas pelas suas histórias de vida.

Misturar várias histórias em um mesmo filme é um artifício bastante utilizado pelos cineastas contemporâneos (“Pulp Fiction” de Quentin Tarantino é um bom exemplo dessa já conhecida escolha narrativa). Esse também é o caso de “As Horas” (“The Hours’ de Steven Daldry), baseado no livro homônimo de Michael Cunningham, onde a linearidade é apenas um detalhe.

Nessa obra cinematográfica de 2003, somos convidadas a acompanhar o subúrbio londrino da década de 20 de Virgínia Wolf (Nicole Kidman), a Los Angeles do pós-guerra em que vive Laura Brown (Julianne Moore) e a cidade de Nova York dos anos 90 com Clarissa Vaughn (Meryl Streep). Aqui o elo entre essas três mulheres é a “Sra. Dalloway”, personagem central da obra literária de Wolf.

Wolf está escrevendo o livro que a tornará famosa (“Sra. Dalloway”), Brown (nos anos 40) está lendo esse mesmo livro e sendo influenciada, todos os dias, pela história da protagonista, enquanto que Vaughn (uma agente literária) foi apelidada pelo seu grande amigo Richard (Ed Harris), de “Sra. D”, pois ela aparenta uma falsa felicidade para esconder a sua real tristeza e vulnerabilidade. Ou seja, esse ótimo longa-metragem interliga essas mulheres não só pelos seus sentimentos, emoções e dificuldades, mas pela própria obra literária da escritora.

O tempo, as horas e o silêncio de cada uma de nós.

Se pudéssemos eleger o principal elemento que rege nossas vidas, o tempo seria a resposta. É devido à sua natureza relativa que temos a sensação de que, dependendo da situação onde nos encontramos na vida, as horas se convertem em minutos (ou ao contrário, com os ponteiros do relógio se arrastando lentamente).

Todas essas protagonistas vivenciam momentos de medo e angústia, mesmo tendo suas origens diferentes e vivendo em épocas bem distintas, com as suas vidas íntimas resultando nas mesmas sensações de paralisia e alguma desesperança no futuro. Para essas mulheres, o tempo parou e encarar o peso das suas vidas e escolhas é uma prova difícil de lidar.

Um retrato sensível e comovente sobre a depressão feminina.

Virgínia Wolf foi uma escritora que já deu muito o que falar e até hoje é fonte de pesquisa entre muitos estudiosos da literatura mundial. Suas obras literárias são marcadas pelo desconforto da mulher perante à sociedade, com reflexões profundas a respeito das disparidades de gênero e uma boa dose de ironia a respeito dos costumes da época.

Esse longa-metragem consegue abordar um tema tão delicado quanto a depressão feminina de uma forma bem sensível, levando o público a sentir a angústia dessas três fortes protagonistas ao enfrentar as suas “horas”. Toda a história se passa em um único dia na vida dessas personagens presas em uma realidade que não as representa. Mas nada disso teria o impacto necessário se não tivéssemos as excelentes interpretações das atrizes Julianne Moore, Meryl Streep e, principalmente, pela entrega da atuação de Nicole Kidman (ganhadora do Oscar pela personificação da escritora Virgínia Wolf). A música de Philip Glass também ajuda bastante o clima que impera no filme (além da fotografia, direção de arte, figurino e maquiagem).

“As Horas” é um filme que fala sobre o livre arbítrio da vida, especialmente sobre como cada decisão tomada por nós afeta o nosso destino e o das pessoas que estão ao nosso redor. É uma narrativa pungente, singela. sincera e até mesmo difícil de assistir em alguns momentos. Assim como encarar nossas vidas cotidianas. Vale a pena conferir essa bela obra cinematográfica!