Tanto a gravidez como a cultura do parto são assuntos que vêm sempre acompanhados por tradições e expectativas culturais associadas geralmente à feminilidade e ao ser mulher.
Porém, cada vez mais o reconhecimento da diversidade de identidade de gênero vem ocupando um maior espaço em nossa sociedade, tornando-se essencial também a abordagem das experiências únicas vivenciadas por homens trans que decidem formar uma família e iniciar uma gestação. Neste artigo, procuramos tirar todas as suas dúvidas relacionadas à gravidez do homem trans.
O que é ser transgênero?
Uma pessoa transgênero tem uma identidade de gênero diferente do sexo designado no momento do nascimento, ou seja, ela não se identifica com o próprio corpo. Dessa forma, a pessoa trans pode ser tanto uma trans binária (como um homem trans ou mulher trans) ou como pessoa não binária (aquela que não se identifica com nenhum dos gêneros ou se identifica com ambos.
Cabe ainda ressaltar que a identidade de gênero é diferente da sexualidade. Assim, pessoas trans podem ter qualquer orientação sexual, incluindo heterossexual, homossexual, bissexual e assexual.
Será que homem trans pode mesmo engravidar?
Os homens trans são pessoas que nasceram com vagina e os órgãos reprodutores femininos. Porém, com o passar do tempo, passam a se identificar como homens. Portanto, por não se reconhecer no próprio corpo, uma pessoa pode passar por uma cirurgia de redesignação sexual. No caso do homem trans, é possível retirar as mamas e os órgãos femininos. No entanto, uma vez que se mantém os ovários e o útero, ele tem a possibilidade de engravidar e gerar um filho.
Homem trans pode engravidar alguém?
Sim. O homem trans pode engravidar alguém na medida em que seus óvulos podem ser utilizados para gerar um embrião que será gerado em outra pessoa. Para isso, é necessário utilizar a técnica de Fertilização in Vitro para que o processo de gestação aconteça. Dessa forma, podemos considerar então que ele participou ativamente da gravidez.
Homem trans pode engravidar tomando hormônio?
O homem trans pode engravidar, porém, deve-se interromper o uso da testosterona para que a gestação aconteça de forma normal. Assim, se não houver a interrupção da medicação, pode ocorrer um aborto ou alterações na genitália do bebê.
Quanto tempo o homem trans fica sem hormônio para engravidar?
Os médicos explicam que se o homem trans ficar por um longo período sem fazer o tratamento com os hormônios masculinos, a progesterona pode se sobrepor em um curto espaço de tempo. Dessa forma, vai depender do tipo de hormônio utilizado (seja via oral, gel, injetável de ação rápida ou prolongada). Assim, em alguns meses os ovários já podem assumir sua função novamente e voltar a ovular.
Qual o tamanho mínimo do útero para homem trans engravidar?
Ao fazer o tratamento com o hormônio masculino, existe uma alteração nos órgãos reprodutivos femininos que acabam atrofiando. Porém, ao interromper a medicação, em alguns meses o útero volta ao seu tamanho normal durante a idade fértil. Nesse sentido, ele pode variar entre 6,5 a 10 centímetros de altura cerca de 6 centímetros de largura e de 2 a 3 centímetros de espessura.
Como o homem trans pode engravidar?
Como já vimos anteriormente, homens trans podem engravidar naturalmente, desde que possuam o aparelho reprodutor feminino. No entanto, é necessário pausar o uso da testosterona antes e durante a gestação e a amamentação. Ao interromper o tratamento hormonal, os sinais masculinos irão regredir e, dessa maneira, o ciclo menstrual voltará, assim como a ovulação e a possibilidade de engravidar.
Um homem trans pode engravidar uma mulher cis?
Quando o casal é formado por homem trans e mulher cis (identidade de gênero idêntica ao que foi atribuído no nascimento) o tratamento de Reprodução Assistida é o mesmo de um casal homoafetivo feminino. Nesse caso, utiliza-se os óvulos do homem trans que serão fecundados com esperma doado de banco de sêmen e implantados no útero da parceira. Se o homem trans desejar usar seus óvulos para engravidar em algum momento da vida ou ainda doar os gametas, é recomendado o processo de congelamento de óvulos (se possível antes mesmo da transição).
Uma mulher cis pode engravidar um homem trans?
Existe sim essa possibilidade. Aliás, nesta configuração familiar, é o mais indicado por conta das medicações que o homem trans utiliza. Neste sentido, com a Fertilização in Vitro, são utilizados os óvulos da mulher cis, fecundados com esperma doado de banco de sêmen e o embrião implantado no útero do homem trans. Mas, ainda assim, é importante frisar que o homem trans pare totalmente de tomar a medicação para que possa gestar com mais segurança o bebê.
Uma mulher trans pode engravidar um homem trans?
Sim. Uma mulher trans pode engravidar um homem trans se os órgãos reprodutivos do casal foram mantidos. O mais indicado nestes casos é utilizar as técnicas de Reprodução Assistida como a inseminação Artificial ou Fertilização in Vitro. Assim, o esperma da mulher trans pode ser introduzido diretamente no útero do homem trans ou fecundado em laboratório com os óvulos do parceiro. Se for FIV, depois do embrião formado, ele é transferido para a cavidade uterina do transgênero masculino.
Um homem cis pode engravidar um homem trans?
Sim. Um homem cisgênero (que se identifica com o sexo biológico em que nasceu) pode engravidar um home trans, desde que o parceiro não tenha retirado o útero durante a transição.
Como é a gravidez do homem trans?
O processo de gravidez, assim como o parto de um homem trans é igual ao da mulher cisgênero. Nesse caso, na maioria das vezes, não é de alto risco e nem precisa de cuidados especiais.
O homem trans pode amamentar?
Existem diversas dúvidas em relação à amamentação de um homem trans. Assim como o homem trans pode gerar um filho, ele também consegue amamentar. Veja, abaixo, como isso é possível:
– Se ele tiver mantido as mamas, o seio vai crescer como em qualquer gestação. Assim, o homem trans poderá amamentar seu filho biológico sem maiores problemas.
– Caso o transsexual masculino seja mastectomizado, não poderá amamentar (já que não produzirá leite por não ter mais as mamas). No entanto, é possível buscar outras formas de amamentação (assim como acontece com algumas mulheres cis ou trans).
– Se o homem trans pretende amamentar, ele só poderá voltar a tomar hormônio masculino depois do desmame. Caso ele não for amamentar, já é possível retornar à medicação após o parto. Porém, em ambos os casos, é importante solicitar ajuda e orientação médica.
Como a psicoterapia pode auxiliar o homem trans gestantes?
Durante a gestação, as pessoas trans enfrentam uma série de mudanças físicas e emocionais únicas, podendo trazer desafios e questionamentos. Enquanto seus corpos se adaptam para abrigar e nutrir um bebê, os homens trans podem viver um conflito entre suas identidades de gênero e mudanças corporais associadas à gestação. Essa desconexão pode gerar ansiedade, disforia de gênero e preocupações relacionadas à aceitação social e familiar. Além das transformações físicas, as pessoas trans gestantes podem se deparar com uma série de questões sociais, discriminatórias e burocráticas.
Sendo assim, a psicoterapia vai desempenhar um papel importante no seu suporte emocional e psicológico durante a gestação, proporcionando um espaço seguro e acolhedor onde os homens trans gestantes podem explorar e expressar esses sentimentos (ajudando a lidar com as emoções conflitantes e promovendo o autocuidado).
Depois de engravidar, o homem trans tem direito a licença paternidade?
A legislação brasileira, quando foi criada, não considerou de maneira adequada a diversidade das novas famílias, portanto o tema ainda é bastante discutido. No entanto, já há jurisprudência de igualar os direitos trabalhistas a todas as pessoas (independente da sexualidade e identidade de gênero). Assim, muitos juízes já entendem que ser homossexual ou trans não tira o direito de usufruir das leis que envolvem o ambiente de trabalho e qualquer outro.
Por isso, transexuais masculinos e gays já estão conseguindo a licença paternidade como os heterossexuais. Se o casal encontrar qualquer problema neste sentido, a dica é procurar o auxílio de um advogado para que as medidas judiciais sejam adotadas contra a discriminação.