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Nina Simone e sua luta por direitos

Eunice Kathleen Waymon (1933-2003), mundialmente conhecida como Nina Simone, é uma das maiores pianistas, compositoras e cantoras de jazz, blues, soul e gospel de sua geração. Durante sua vida, gravou mais de 40 álbuns considerados históricos e que serviram como fonte de inspiração para outras artistas que se consagraram como grandes nomes da indústria musical (como: Beyoncé, Alicia Keys e Lauryn Hill).

Dona de uma voz poderosa e única, a cantora fez da sua música também uma expressão de luta pelos direitos civis da população negra estadunidense e sua obra permanece até os dias de hoje como um símbolo de resistência para as novas gerações.

Os primeiros passos de uma artista que veio para fazer história

Nascida em 21 de fevereiro de 1933, na cidade de Tryon, na Carolina do Norte, Nina teve uma origem humilde. Seu pai era marceneiro e sua mãe empregada doméstica e ministra metodista. Como acompanhava sua mãe na igreja, foi lá que ela teve seu primeiro contato com o piano, aos 4 anos de idade. Desde então, passou a tocar na igreja metodista acompanhando o coral. Aos 7 anos, participou do seu primeiro recital.

A sua apresentação foi um divisor de águas em sua vida, pois foi assistida pela professora de piano Muriel Mazzanovich (figura fundamental no aprendizado de Nina) que acabou sendo responsável por sua iniciação na música clássica e pela criação do Fundo Eunice Waymon, criado para que ela pudesse dar continuidade aos estudos no piano clássico. Logo, passou a ser uma das primeiras artistas negras a estudar na aclamada Escola Julliard, em Nova York.

Após o seu período na Escola Julliard, Nina pretendia continuar seus estudos. Porém, sem condições financeiras, ela se viu obrigada a tocar em bares para ajudar a sua família. Sabendo que tal trabalho não seria aceito por seus pais, Eunice assumiu então o nome artístico de Nina Simone (Nina significa “menina” em espanhol e Simone foi em homenagem à atriz francesa Simone Signoret).

Uma poderosa voz contra o racismo e a desigualdade social

Nina interpretou canções de variados estilos e também compôs algumas canções de sucesso. Entre os seus hits que obtiveram destaque nas paradas de sucesso, estão: “Feelling Good”, “I Put a Spell on You”, “Don’t Let Me Misunderstood”, “Aint Got No – I Got Life”, “Here Comes The Sun”, “My Baby Just Cares For Me e To Be Young”, “Gifted and Black” e “I Wish I Knew How It Would Fell To Be Free”.

As suas músicas abordavam temas necessários e falavam desde o amor e a liberdade até os direitos humanos (com letras que são extremamente relevantes até os dias de hoje). O repertório de Nina Simone era composto por canções que remetiam à sua origem afro-americana. Logo, a desigualdade social era constantemente abordada em seus discursos e músicas, fazendo com que ela ganhasse destaque por ser uma potente ativista contra a onda crescente de racismo que assolavaos Estados Unidos nas décadas de 50/60.

A aclamada “Mississipi Goddam” transformou-se em hino do movimento negro estadunidense. Um atentado racista que matou 4 crianças negras em uma igreja batista fez com que Nina escrevesse essa canção e também percebesse o que significava ser uma mulher negra nos Estados Unidos. A partir daí, a cantora encontrou na militância o verdadeiro propósito da sua obra. A sua música e a sua voz tornaram-se símbolo de expressão dos direitos civis.

Nina ainda defendia a ideia de que os negros norte-americanos poderiam, por meio de combate armado, formar um estado separado. Sua resposta ao racismo da época era atacá-lo de forma tão violenta e radical quanto ele era praticado. Suas várias manifestações em frente à Casa Branca, levavam multidões para lutar contra o genocídio negro, usando sua plataforma e visibilidade para pedir leis que aniquilassem a intolerância étnica. Nina compôs ainda a música “The King of Love is Dead” em homenagem a Martin Luther King Jr. (1929-1968), cantando em seu enterro.

Uma artista revolucionária e única

Por sua visceral e visível militância, Nina Simone foi rejeitada pelas gravadoras, pelas grandes casas de espetáculo, pela parte do público e também boicotada pela grande maioria das premiações. Cansada da violência dos conflitos da época e do desprezo do show business, Nina decidiu então dar um tempo na carreira e deixou os Estados Unidos em 1970. Viajou pela Europa e fixou residência na França.

Seu retorno aos palcos, nos anos 80, deve-se à utilização da música “My Baby Just Care For Me” (um de seus principais sucessos do início da carreira) em um comercial do perfume Chanel Nº 5, que a colocou novamente nas paradas de sucesso. Em 1993, ela lançou o seu último álbum “A Single Woman” e, nos anos seguintes, fez inúmeras apresentações internacionais (inclusive no Brasil, no Parque Ibirapuera), para um público de 35 mil pessoas).

Nina Simone só foi ganhar o seu primeiro Grammy em 2017, com o prêmio Lifetime Achievement (pelo conjunto da sua obra). Em 2003, o mundo perdeu essa grande artista e ativista política em decorrência de um câncer de mama. Porém, o seu legado deixou um caminho para que a população negra pudesse ter voz, ascender, ganhar o seu espaço e, assim como ela, construir uma história de sucesso.

“É uma obrigação artística refletir o meu tempo” – Nina Simone (1933-2003)