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Gladys West: a mãe do GPS

Protagonismo feminino em escala mundial

Além de nos ajudar a saber onde estamos e nos guiar até o nosso destino final, o GPS está presente em nossas vidas em nosso cotidiano através de diversas atividades, como: pedir comida, chamar um carro de aplicativo e até dar um simples “match” nos aplicativos de paquera. O que você talvez ainda não saiba sobre essa tecnologia é que ela foi criada por uma mulher que precisou trabalhar como babá para conseguir custear os seus estudos.

Nascida no Estado da Virgínia (EUA) em 1930 e criada em uma fazenda, Gladys West é uma entre tantas mulheres que, apesar das grandes contribuições para a humanidade, tiveram suas conquistas apagadas na história e cujas realizações só foram reconhecidas muitos anos mais tarde (já no final da vida ou até de maneira póstuma).

Uma infância difícil e de muita luta para levar os seus estudos até o fim

Morando em uma fazenda, a escola ficava a quase cinco quilômetros de distância, caminhando por matas e riachos, e ela logo se destacou entre as crianças, todas negras, que frequentavam a sala de aula. Ao perceber o quanto West se dedicava à escola, sua família tentou juntar dinheiro para enviá-la à faculdade, mas as contas a pagar dificultavam o objetivo.

A chance veio finalmente com o anúncio de que os dois melhores alunos daquele ano, no estado onde West morava, iam ganhar uma bolsa de estudos (o que ela conseguiu quando se formou no Ensino Médio. Assim, passou a frequentar a Virginia State College (uma universidade historicamente negra).

Trabalho de babá para pagar os estudos na universidade

Até foi possível driblar a anuidade escolar com a bolsa, mas era preciso se manter no campus da universidade. Sem dinheiro, logo aceitou um trabalho de meio período como babá e teve de se dedicar bastante para acompanhar os colegas de faculdade (educados, em sua maioria, em grandes centros urbanos). Após a graduação em Matemática, West se tornou professora e pôde guardar algum dinheiro para a pós-graduação. Ao concluir mais uma etapa de estudos, aceitou a proposta de emprego na Marinha na década de 1950.

Além de ser apenas a segunda mulher negra contratada na base como programadora, West era um dos quatro funcionários negros no local. Fora da base, o país enfrentava uma batalha contra a segregação racial e por direitos civis. Por ser funcionária do governo, West foi orientada pelos seus superiores a não participar dos protestos, mas se comprometeu com o trabalho e fez a sua revolução do lado de dentro contra o estigma sofrido pelas pessoas pretas.

Longa trajetória na Marinha dos Estados Unidos

Contratada pelo Campo de Provas Naval da Virginia, da Marinha dos EUA, em 1956, West se especializou em sistemas de larga escala para computadores e processamento de dados, com o objetivo de analisar informações coletadas por satélites. Mas, foi na década de 1980 que ela alcançou seu maior feito.

Segundo o astrofísico e pesquisador Ethan Siegel, na época, ela programou o computador que calculava o geoide da Terra (a forma do planeta) com precisões suficientes para permitir a existência do GPS. “Para conseguir fazer isso, diz Siegel, é preciso levar em consideração variações em todas as forças e efeitos que podem distorcer o formato da Terra. Ou seja, não é pouca coisa”.

Gladys West ainda escreveu um guia sobre como melhorar a precisão dos estudos com base nas informações coletadas por satélites sobre a forma e a dimensão da Terra, adiantando os avanços a serem alcançados pelas gerações futuras. Em 1998, ao se aposentar do Centro de Guerra de Superfície Naval, West voltou aos estudos. Dois anos mais tarde, aos 70, ela concluiu o doutorado em Administração Pública e Política. Só em 2018, aos 88 anos, a cientista foi incluída no Hall da Fama dos Pioneiros do Espaço e Mísseis da Força Aérea dos Estados Unidos em reconhecimento aos resultados alcançados pela sua dedicação.

Uma fonte de inspiração para outras mulheres

Em entrevista para o jornal “The Guardian”, já no final de 2020, Gladys West disse que a ciência foi o seu passaporte para a liberdade:

“Senti orgulho de mim mesma como mulher, sabendo o que posso fazer. Mas, como mulher negra, isso é outro nível em que você tem que se provar para uma sociedade que não te aceita pelo que você é. O que fiz foi continuar tentando provar que era tão boa quanto você (pessoa branca). Não há diferença no trabalho que podemos fazer”.

Gladys West – Matemática e programadora de computadores que abriu as portas para uma das invenções mais usadas no mundo: o sistema de posicionamento global. Ela está entre as 100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo (conforme uma lista da BBC de 2018).