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Lygia Clark e Lygia Pape: artistas que transformaram a arte brasileira

As artistas Lygia Clark e Lygia Pape, além de terem seus primeiros nomes escritos de forma exatamente iguais, fizeram parte do mesmo movimento: o neoconcretismo. Suas valiosas obras artísticas (especialmente as pinturas cheias geométricas) se assemelham também e foram igualmente importantes para a transformação da arte brasileira, influenciando diversos artistas até os dias de hoje. As duas tinham o corpo humano como pesquisa central em seus trabalhos e instigaram o público a aguçar outros sentidos para além da visão de suas obras.

Lygia Clark (1920-1988)

A integração entre o corpo e a arte.

Nascida em Belo Horizonte, em 1920, Lygia Clark iniciou seu aprendizado artístico com o mestre Burle Marx (1909-1994). Entre os anos de 1950/52 passou a viver em Paris, onde estudou com Fernand Léger (1881-1955), Arpad Szenes (1897-1985) e Isaac Dobrinsky (1891-1973). De volta ao Brasil, integrou o Grupo Frente, liderado por Ivan Serpa (1923-1973). É uma das fundadoras do Grupo Neoconcreto e participou da sua primeira exposição em 1959. Aos poucos, trocou sua pintura pela experiência com objetos tridimensionais, realizando proposições participacionais como a série “Bichos” em 1960 (construções metálicas geométricas que se articulavam por meio de dobradiças e requeriam a coparticipação do público espectador. Nesse ano, lecionava artes plásticas no Instituto Nacional de Educação dos Surdos.

Lygia dedicou-se à exploração sensorial em trabalhos importantes como “A Casa é o Corpo” (1968) e participou também das exposições “Opinião 66” e “Nova Objetividade Brasileira” no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM). Entre os anos de 1970/76, volta a residir em Paris, onde leciona na Faculté d’Arts Plastiques St. Charles (na Sorbonne). Nesse período, sua atividade se afasta da produção de objetos estéticos e volta-se para experiências corporais em que materiais estabelecem  relação entre os participantes. Ao retornar para o Brasil, dedica-se então ao estudo das possibilidades terapêuticas da arte sensorial e dos objetos relacionais. Sua prática fará com que, no final da sua vida, a artista considere seu trabalho definitivamente alheio à arte e muito mais próximo à psicanálise.

A partir dos anos 80, Lygia Clark ganhou reconhecimento internacional com a sua obra, através de várias retrospectivas em capitais internacionais e em mostras antológicas da arte internacional do pós-guerra.

Lygia Pape (1927-2004)

A arte como experimento dos sentidos.

Nascida no Rio de Janeiro, em 1927, Lygia Pape foi um dos principais nomes da arte brasileira contemporânea. Com criatividade e habilidade, essa artista neoconcretista deixou um legado único para o público e diversos outros artistas. O seu trabalho não apenas questionou a estética da abstração geométrica, como enfatizou os sentidos e a interação do público. Aos 20 anos, a artista se une ao movimento da Arte Concreta e, poucos anos depois, volta-se para ser uma das grandes protagonistas do novo e experimental movimento neoconcreto. Em 1960, Pape cria o design das embalagens de todos os produtos da Piraquê, assim como desenvolve um novo formato de embalagem (que é usado até hoje por diversas empresas do setor). “Divisor” (1968) foi um dos seus trabalhos mais emblemáticos (contando com um grande tecido branco com furos dispostos para que as pessoas colocassem suas cabeças), retratando a liberdade pessoal dentro da sociedade.

Durante a década de 70, o seu trabalho apresenta um caráter totalmente voltado para a cultura pop brasileira (já que nesse período a ditadura militar censurava, oprimia e inibia a liberdade de expressão). Assim, por meio de seus vídeos e instalações, a artista podia criticar de modo metafórico o então regime ditatorial. Quando se juntou ao Grupo Frente (um movimento cujos membros incluíam Lygia Clark e Hélio Oiticica), buscou romper com os dogmas da arte tradicional. O seu engajamento com a forma pode ser observado por seus desenhos de linhas exatas e belas estampas em preto e branco. É dessa maneira que a artista mostra traços de modernização (sendo muito parecidos com os de Oscar Niemeyer e Roberto Burle Marx). Inegavelmente, “Ttéia 1C”, de 2002, foi uma de suas principais obras. Pertencente à última fase de sua carreira, a concepção desse trabalho teve início em 1977, mas apenas no final da década de 1990 e começo dos anos 2000 foi finalizada.

Lygia Pape teve sucesso em todos os projetos que realizou, seja como gravadora, pintora, escultora, cineasta ou professora. Produziu intensamente até a sua morte em 2004 no Rio de Janeiro.