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O Escândalo (Prime Vídeo)

O assédio nos bastidores de uma rede de televisão americana

Protagonismo é importantíssimo para todas as causas. E ver mulheres fortes sendo representadas em papéis centrais de filmes e séries é mais do que necessário. “O Escândalo” (“Bombshell”, no título original) é um filme que se aprofunda no tema do assédio contra a mulher, tendo como ponto principal um dos maiores caso de assédio sexual dentro da indústria de entretenimento americana. É um relato, em forma de longa metragem, que serve de exemplo para que outras mulheres possam denunciar casos de abusos que tenham sofrido no trabalho ou em qualquer lugar.

Dirigido por Jay Roach (“Entrando Numa Fria”) e protagonizado por Charlize Theron (“Monster”, “Atômica” e “The Old Guard”), Nicole Kidman ( “Moulin Rouge”, “De Olhos Bem Fechados” e “As Horas”) e Margot Robbie (“Aves de Rapina” e “O Esquadrão Suicida”), o filme venceu o Oscar de Melhor Maquiagem e Penteado (criados por Kazu Hiro, Anne Morgan e Vivian Baker), mas seus méritos vão muito além da aparência. Essa bem cuidada produção traz à tona uma série de eventos que ocasionaram a queda e, consequentemente, a demissão do magnata e cabeça (Roger Ailes) por trás da poderosa rede de notícias americana Fox News, aqui interpretado magistralmente pelo ator John Lithgow (“Síndrome de Caim”, “Um Tiro na Noite”, “Risco Total” e de séries como “3rd Rock from the Sun” e “The Crown”). 

Quando o assédio vem de cima para baixo

Em um primeiro momento, o filme pode passar um tom mais “leve” e até mesmo desconstruído em uma narrativa que procura mesclar acontecimentos políticos (como o debate do então candidato republicano à presidência dos EUA, Donald Trump) a uma espécie de quebra da quarta parede, com a apresentação dos estúdios feita por Megyn Kelly (Charlize Theron). Mas à medida que entendemos as relações abusivas de trabalho que Roger Ailes impõe aos funcionários, notamos que há algo muito estranho no ar, principalmente em relação às mulheres. É fácil perceber que o olhar “objetificante” para os corpos femininos é algo presente na indústria do entretenimento (e isso não é de hoje). Atualmente, felizmente, as mudanças em torno dessa construção estão acontecendo por meio de escândalos envolvendo grandes nomes como Harvey Weinstein, o próprio Ailes e tantos outros.

Aos poucos, a história vai nos revelando que o processo de assédio e abuso em ambientes de trabalho é algo que começa na chefia e continua como um processo hierárquico. Os casos de assédios sexuais estão em três arcos distintos: o de Kelly, que esteve em uma situação específica que não se repetiu; o de Gretchen Carlson (Nicole Kidman), que sofreu diversos episódios de assédio e humilhações (e, após não aceitar as investidas, foi demitida); e, por fim, o de Kayla Pospisil (Margot Robbie) que é a mais nova das três e sofre os assédios continuamente. Através de suas experiências, temos uma visão mais ampla das personagens e uma quebra do estereótipo de vítima.

Uma história baseada em fatos reais

Embora o filme tenha coragem de denunciar um fato específico que ganhou uma enorme repercussão nos Estados Unidos, ele apresenta uma certa dificuldade em observar o machismo inerente ao mecanismo da indústria televisiva como um todo, ou seja, à própria estrutura do poder que se insere nela. Apesar da direção de Roach ser acertada e o roteiro de Charles Randolph (“A Grande Aposta”) ser contundente, o filme podia trazer um olhar feminino por trás dessa história (algo que captasse a parte emocional e subjetiva dos acontecimentos).

Por se tratar de um assunto tão delicado e pessoal na vida de tantas mulheres, um olhar feminino traria um ponto de vista mais verdadeiro, além da ocupação de um espaço para que as mulheres contem suas próprias histórias. De qualquer forma, é um filme importante porque revela que é no comportamento que está a raiz do assédio, do machismo e da violência contra às mulheres. A sensação que fica é a de que estamos cada vez mais próximos de uma transformação da nossa sociedade, mas ainda bem distantes da realidade que devemos construir. Vale a pena assistir “O Escândalo”!