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Pobreza menstrual: o que é, causas e efeitos na sociedade

  • Categoria do post:Saúde em Dia

Seja pela falta de recursos, desinformação ou tabu em torno do assunto, o fato é que uma parcela significativa da população brasileira é impactada pela pobreza menstrual. Embora a ONU (Organização das Nações Unidas) considere o acesso à higiene menstrual um direito que deve ser tratado como uma questão de saúde pública, não é isso que observamos na prática. No Brasil, 1 em cada 4 adolescentes não possui um absorvente durante o seu período menstrual. Esse dado extremamente preocupante está no relatório Livre para Menstruar, elaborado pelo Girl Up, um movimento global criado para a promoção de lideranças femininas.

Outros estudos também apontam para esse lastimável cenário de precariedade enfrentado pelas mulheres durante a menstruação. O “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”, elaborado pelo UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas) e pelo UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), indica que 713 mil meninas vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em seu domicílio. Outras 4 milhões não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas, como absorventes, sabonetes ou mesmo banheiros.

“A menstruação é uma condição perfeitamente natural que deve ser mais seriamente encarada pelo poder público e pelas políticas de saúde. Quando não permitimos que uma menina possa passar por esse período de forma adequada, estamos violando a sua dignidade”, afirma Astrid Bant (representante do UNFPA no Brasil). Para ela, a ausência de condições sanitárias mínimas para que as pessoas possam gerenciar sua menstruação é uma violação dos Direitos Humanos e uma condição que distancia o país dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e ODS3 (relacionado à saúde e o bem-estar).

O que é a pobreza menstrual?

A pobreza menstrual se define pela falta de recursos básicos (absorventes, sabonetes, água, papel higiênico etc.), infraestrutura adequada (banheiros seguros e bem conservados, saneamento básico, coleta de lixo) e conhecimento (quebra de tabus e preconceitos sobre o tema) para que pessoas que menstruam tenham plena capacidade de cuidar da sua menstruação (é importante ressaltar que além de meninas e mulheres, homens transexuais também menstruam).

Quais são as principais causas da pobreza menstrual?

As causas da pobreza menstrual giram, principalmente, em torno da desigualdade social, uma vez que as pessoas mais atingidas por essa questão são as que não têm recursos para compra dos itens de higiene ou não têm acesso às informações sobre o tema.

Principais impactos da pobreza menstrual

Impactos sociais:

Os impactos da pobreza menstrual são principalmente sociais. Sem infraestrutura e itens básicos de higiene, as meninas deixam de ir às escolas e de participar das atividades de socialização, assim como as mulheres deixam de ir trabalhar (nota-se, portanto, um impacto direto na educação e na economia).

Impactos psicológicos:

A falta de conhecimento e informação reforçam certos tabus em torno da menstruação, gerando diversos tipos de preconceito. Muitas jovens ainda têm, inclusive, vergonha de ir ao médico e desconhecem o funcionamento do seu próprio corpo. Uma pesquisa realizada pela FEBRASGO (Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia) juntamente com o Datafolha constatou que aproximadamente 4 milhões de mulheres no Brasil nunca foram ao ginecologista e 16,2 milhões não se examinam com o especialista há mais de 1 ano por vergonha, medo de algum diagnóstico ou simplesmente por não gostarem.

Impactos na saúde íntima:

A falta de cuidados básicos com a menstruação pode causar alergia, irritação na pele e mucosas, infecções urogenitais (como a cistite e a candidíase) e até uma condição conhecida como Síndrome do Choque Tóxico que pode levar ao óbito.

Impactos na idade escolar:

Segundo dados da ONU, 1 a cada 10 meninas falta às aulas durante o período menstrual. No Brasil, esse número é ainda maior: 1 entre 4 estudantes deixou de ir à escola por não ter absorventes. E, conforme o levantamento feito pela consultoria Toluna e uma famosa marca de absorventes (“Impacto da Pobreza Menstrual no Brasil”), jovens perdem, em média, até 45 dias de aula por ano devido a falta de condições durante o período menstrual. Além disso, não há em boa parte das escolas, uma infraestrutura de higiene suficiente para atender as necessidades básicas de pessoas que menstruam.

Impactos nos presídios:

Segundo dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), 24,9% das mulheres presas no Brasil estão em presídios que não oferecem estrutura adequada no módulo de saúde (prejudicando assim a saúde individual e coletiva no local). Elas acabam recorrendo ao uso de materiais inapropriados para conter o fluxo, como: panos, restos de jornal, papel higiênico e até miolo de pão, aumentando o risco de doenças e infecções.

Como a pobreza menstrual pode ser combatida?

Existem uma série de medidas que podem ser tomadas para combater a pobreza menstrual e o principal ator dessas iniciativas deve ser o Governo por meio de políticas públicas, como:

– Investimento em aulas de educação sexual (para que crianças e adolescentes tenham acesso à informação sobre menstruação);

– Investimento em infraestrutura nas escolas (com instalação de banheiros adequados e itens de higiene);

– Distribuição de absorventes e itens básicos de higiene (para a população mais carente, inclusive nas escolas públicas);

– Distribuição gratuita de absorventes e medicamentos em postos de saúde (para que as mulheres possam lidar com problemas menstruais);

– Campanhas de conscientização dentro e fora das escolas (para ensinar sobre o funcionamento do ciclo menstrual, diminuindo o tabu sobre o assunto).