Hoje, apesar de alguns avanços legais e sociais já conquistados pelas mulheres, a discriminação por gênero, raça, idade e até sua condição social ainda permeiam os mais diversos setores de nossa sociedade. No ambiente profissional, por exemplo, cerca de 60% das mulheres lésbicas por exemplo já sofreram algum tipo de discriminação devido à sua orientação sexual, como se isso fosse um fator real de impedimento para sua ocupação em cargos de relevância dentro da sua área de atuação.
Além disso, 40% dessas mulheres já disseram ter vivenciado algum tipo de assédio moral ou sexual, de acordo com o estudo “Profissionais Liberais Lésbicas no Mercado de Trabalho Brasileiro”, realizado este ano pela Universidade de São Paulo (USP) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda segundo essa mesma pesquisa, 50% das mulheres lésbicas ainda enfrentam dificuldades para a sua obtenção de emprego devido à sua orientação sexual.
Essa é ainda uma realidade que impacta diretamente tanto na sua qualidade de vida, como no seu desempenho profissional.
Como a discriminação e o preconceito impactam na vida profissional das mulheres lésbicas?
A discriminação e o preconceito enfrentado pelas mulheres lésbicas nas empresas são, de fato, desafios significativos que ainda persistem na sua rotina de trabalho. Por isso, a razão de muitas delas não se identificarem publicamente. A ausência de modelos e lideranças que se assemelhem a elas acaba tornando o ambiente menos acolhedor e, em alguns casos, até hostil.
As formas de discriminação podem variar, desde piadas ofensivas, comentários preconceituosos, tratamento injusto quanto às oportunidades de ascensão na carreira e até mesmo a exclusão social no seu ambiente profissional. Isso leva a uma triste realidade de invisibilidade e falta de representatividade, tornando ainda mais difícil a sua inserção no mercado de trabalho.
Qual é a importância da representatividade e visibilidade no ambiente profissional?
A representatividade e a visibilidade são pilares essenciais para promover a inclusão da mulher lésbica no seu ambiente de trabalho. Quando elas se tornam representadas e visíveis em cargos de liderança, isso cria um impacto significativo na desconstrução de estereótipos e no combate ao preconceito e discriminação.
Ao ocupar uma posição de destaque nas empresas, a mulher lésbica se torna um modelo inspirador para outras colaboradoras, mostrando que é possível sim obter oportunidades para alcançar sucesso profissional (independentemente da orientação sexual-afetiva).
Como enfrentar o problema da discriminação e do preconceito no ambiente de trabalho?
É cada vez mais necessário que as empresas adotem políticas internas claras de combate à discriminação e ao preconceito. Ações como a implementação de canais de denúncia seguros e confidenciais, além de treinamentos de sensibilização e conscientização, podem contribuir significativamente para criar um clima organizacional que valoriza a diversidade e a inclusão, respeitando assim o direito das mulheres lésbicas a terem sua integridade pessoal cada vez mais respeitada e preservada por todos.
As empresas que se empenham no combate à discriminação e ao preconceito, criam um ambiente de trabalho mais atrativo e acolhedor para todos os seus talentos, além de contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária. É preciso que todos (gestores, lideranças e colaboradores) se engajem nesse processo, independente de sua posição hierárquica, para garantir um ambiente de trabalho seguro e respeitoso para todas as mulheres lésbicas e outras minorias sexuais.
Estudos mostram que organizações com políticas inclusivas têm 33% mais chances de atrair e reter talentos LGBTQ+ (fonte: Relatório sobre Empresas Inclusivas – 2021). Isso ocorre porque esses indivíduos são mais propensos a buscar oportunidades de emprego em empresas que demonstram um comprometimento claro com a diversidade e a igualdade. Ao adotar políticas de diversidade e inclusão, as empresas transmitem para o seu público interno e externo uma mensagem de respeito e valorização das diferenças, transformando-se em exemplos inspiradores para outras organizações.
Quais as vantagens da adoção de uma política inclusiva no ambiente profissional?
Além de atrair e reter talentos, as empresas que investem em políticas de diversidade e inclusão também podem desfrutar de uma série de outros benefícios. Equipes diversas tendem a ser mais inovadoras e criativas, uma vez que diferentes pontos de vista são combinados para encontrar soluções mais abrangentes para os desafios enfrentados. Além disso, a diversidade contribui para uma tomada de decisões pautada em uma variedade de experiências e conhecimentos que ajudarão a embasar melhor as escolhas estratégicas da empresa.
O fato é que “sair do armário” no ambiente corporativo ainda é um tabu entre o público feminino, segundo um levantamento da consultoria PwC, que ouviu 1,270 profissionais dos setores público, privado e de organizações não governamentais (ONGs). Quanto mais sênior uma mulher, maior seu conforto para se assumir no seu trabalho, o que, para 70% das entrevistadas, está associado à representatividade e ao respeito a pessoas LGBTQ+.
É preciso que haja uma mudança imediata de mentalidade junto aos gestores e lideranças dessas empresas, para que haja verdadeiramente uma igualdade de oportunidades no mercado de trabalho dessas mulheres. Já passou da hora!