Hoje, os empreendedores que se preocupam com a saúde mental de todos os seus colaboradores não estão apenas cuidando da boa gestão da sua equipe, mas também têm em mente que isso é um item primordial de inteligência para o bom andamento e o sucesso dos seus negócios.
De acordo com vários líderes da área de Recursos Humanos em todo o mundo, é cada vez mais claro que as organizações que superaram com êxito a evasão de talentos para a concorrência são aquelas que cultivaram um forte senso de empatia e flexibilidade, desenvolveram um conjunto de novas habilidades para as necessidades da força de trabalho e ampliaram o suporte holístico de saúde mental e os benefícios que promovem bem-estar aos seus funcionários.
Neste artigo, apresentamos alguns dados importantes baseados em pesquisas realizadas pela ONU, OMS, OIT, além de outros estudos relevantes nos mercados nacional e internacional.
Quais são os dados demográficos de esgotamento profissional no mundo?
Em um mercado globalizado e extremamente competitivo, existem cada vez mais relatos de casos de pessoas que são afetadas pelo esgotamento profissional (não só devido às exigências constantes de atender metas muitas vezes impossíveis de serem alcançadas, mas também à competição presente no mundo corporativo). Um cenário que está crescendo progressivamente.
Conforme o relatório “The State of Workplace Burnout 2023” da Infinite Potential, as taxas de crescimento dos últimos três anos são: 2020 (29,6%), 2021 (34,7%) e 2022 (38,1%). Entre os três principais sintomas apontados de esgotamento que continuam crescendo, estão: a “exaustão” e a “redução de eficácia”. O único que apresentou diminuição foi o “cinismo” em relação ao trabalho. Além disso, ele é maior em:
– Mulheres (38%), contra 33% em homens;
– Pessoas de 18 a 24 anos, sendo que os números diminuem conforme a idade avança;
– Cargos iniciantes (45%), e só volta a aumentar nos cargos de gestão de líderes (37%).
Aqui é importante ressaltar o contexto de modelo de trabalho atual, onde a maioria dos colaboradores voltou a exercer suas atividades presencialmente ou de maneira híbrida.
Esse relatório aponta ainda que as necessidades dos colaboradores não foram consideradas pelos seus gestores nesse processo (onde eles sentem-se menos apoiados pelas empresas em 2022 do que em 2021).
Quais são as indústrias e os cargos mais afetados pelo esgotamento profissional no Brasil?
No cenário brasileiro, os dados apresentados são um pouco diferentes. A startup Way Minder realizou recentemente uma pesquisa com mais de 600 pessoas, descobrindo que as áreas que mais sofrem com a “exaustão” no trabalho são:
– Recursos Humanos (43 pontos);
– Setor de Vendas (42,11 pontos);
– Educação (42,1 pontos);
– Liderança (40 pontos);
– Administrativo (38 pontos);
– TI (36 pontos).
Todos estes se enquadram num estágio moderado de burnout.
Além disso, os dados da pesquisa são diferentes daqueles apontados no cenário global. Neste caso, cargos C-level são os mais esgotados, seguidos pelas lideranças. Os gestores de líderes têm a pontuação ligeiramente menor.
– CEO, direção e sócios (44,41 pontos);
– Gestores de líderes: gerentes e coordenadores (37,43 pontos);
– Lideranças: subgerentes e supervisores (39,47 pontos).
Novamente, todos têm um risco moderado. Sendo que os C-level são os mais próximos de consequências mais graves. Inclusive, os da geração X, nascidos entre 1980 e 1995, são os com nível mais alto de esgotamento (48 pontos). Já entre gerentes e coordenadores, a geração Z fica à frente (41,8 pontos).
Fatores de estresse na vida pessoal e profissional.
De acordo com dados levantados pelo World Mental Health Report de 2022, feito pela ONU, fica bem claro que quanto maior a vulnerabilidade individual, maior é o risco de as pessoas sofrerem com questões de saúde mental. Porém, as pessoas sem vulnerabilidades relevantes também podem sofre com isso diante de uma realidade com muitos fatores de estresse no ambiente corporativo.
É importante destacar que a síndrome do esgotamento profissional é definida como “estresse não gerenciado”, que se torna crônico no ambiente de trabalho, de acordo com a OMS. Mas, ao mesmo tempo, é um erro desconsiderar a realidade de cada profissional fora do seu ambiente de trabalho também. Afinal, nossa fonte de energia é uma só. Dessa forma, um quadro de esgotamento profissional também afeta outras áreas da nossa vida cotidiana e vice-versa.
Por isso, em uma boa parte dos casos, a síndrome do esgotamento profissional pode não se resolver de forma simples (com um afastamento, por exemplo). Segundo a Dra. Geri Puleo, CEO da Chance Manage Solutions e criadora do B-DOC (Burnout During Organization Change), o tempo médio para a recuperação da síndrome do esgotamento profissional é de dois anos.
O que fazer para evitar a síndrome de burnout?
Veja, abaixo, algumas dicas que você pode adotar no seu trabalho e que irão colaborar bastante para a criação de um ambiente interno mais saudável e produtivo para todos:
1. Conscientize a sua equipe:
Uma boa iniciativa é promover palestras e workshops junto aos seus colaboradores abordando sobre esse assunto (aqui o mais interessante é já ter em mãos um diagnóstico da sua equipe para levantar os principais problemas). Segundo um estudo de caso apresentado no World Mental Health Report, uma empresa nos Estados Unidos realizou pesquisas internas sobre saúde mental antes e depois de um treinamento sobre o tema. Os resultados foram extremamente positivos:
– A conscientização de questões sobre saúde mental subiu de 47% para 97% entre os colaboradores;
– A capacidade de identificar sintomas de ansiedade e depressão também foi aumentada de 21% para 44%;
– A estigmatização de saúde mental que antes era de 84% caiu para 38%.
2. Realize treinamentos contínuos para uma mudança do clima organizacional:
O processo de sensibilização não acontece apenas em um único evento com essa finalidade. É preciso que as empresas comecem a se autorregular sobre esse tema, ou seja, analisar o que pode ser feito para não haver uma carga excessiva de demandas e metas a serem cumpridas junto aos seus colaboradores. Realizar reuniões com suas lideranças, definir melhor as urgências e procurar eliminar os riscos do esgotamento profissional.
3. Promover arranjos de trabalho mais flexíveis:
Hoje, uma boa parte das empresas já vem adotando o trabalho em home office em alguns dias da semana, flexibilizando assim o trabalho de seus colaboradores. Isso ajuda bastante na saúde mental e bem-estar da sua equipe, trazendo consequentemente um aumento da produtividade. No Brasil, esse número ainda é menor do que a média mundial (de 60%), mas os resultados vem sendo expressivos.
4. Oferecer a psicoterapia como um benefício:
Depois que a conscientização já começou a dar resultados, que as mudanças começaram a ser implementadas no design organizacional da empresa, é o momento de oferecer escuta na qualidade individual para cada um dos funcionários. A psicoterapia traz inúmeras vantagens para a saúde mental. Atualmente, o Brasil tem registrado diversos casos de ansiedade (somos o povo mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo). Além disso, esse tipo de benefício é fundamental para atuar como prevenção a transtornos psicológicos e ajudar também no autoconhecimento.
É preciso entender que o profissional da sua empresa não é apenas um número ou uma mera ferramenta de trabalho que está ali para lhe proporcionar lucro. O gestor de uma empresa que pensa assim está indo na contramão do mercado. A síndrome de burnout é uma doença séria e que precisa ser encarada de frente no mundo inteiro. Para a saúde das pessoas e também das empresas!