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Tarsila do Amaral: um dos nomes mais fortes do Modernismo brasileiro

Nascida na fazenda São Bernardo, no município de Capivari (SP), em 1º de setembro de 1886, Tarsila do Amaral veio de uma família abastada e herdeira de grandes propriedades rurais no interior paulista. Cresceu junto a seus 7 irmãos ouvindo a mãe tocar piano e o pai recitar poemas em francês (língua que aprendeu desde sua infância). Foi enviada à capital para estudar no Colégio Sion e, depois, mudou-se para Barcelona (onde concluiu seus estudos). Na Espanha, pintou o seu primeiro quadro “Sagrado Coração de Jesus”.

Ao retornar, casou-se com o médico André Teixeira Pinto (de quem era noiva). Nessa época, o marido se incomodava com o seu ofício, impondo à Tarsila um comportamento recatado e doméstico. Depois do nascimento da filha única do casal (Dulce), Tarsila decidiu, então, pela separação. Devido à enorme influência de sua família (que sempre apoiou sua carreira nas artes), conseguiu a anulação do seu casamento, em 1925, já que o divórcio não era então permitido por lei no Brasil.

Em 1918, Tarsila começou a ter aulas de pintura no ateliê do naturalista Pedro Alexandrino (1856-1942) onde conheceu a pintora Anita Malfatti. Em 1920, partiu para Paris, onde permaneceu até junho de 1922, estudando na Acedémie Julien e tomando aulas com o pintor Emile Renard. Foi a partir das cartas enviadas por Malfatti que Tarsila tomou conhecimento da Semana de Arte Moderna (ocorrida em fevereiro de 1922).

Tarsila e o Modernismo: protagonismo feminino nas artes nacionais

Embora não tenha participado ativamente na Semana de Arte Moderna de 1922, Tarsila tornou-se o grande nome das artes plásticas do modernismo nacional. Foi só a partir de seu encontro com os artistas modernistas que ela desenvolveu, de fato, o estilo pelo qual ficou conhecida.

De volta a São Paulo, Malfatti apresentou Tarsila aos artistas modernistas e, a partir daí, foi formado o “grupo dos cinco”: Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Menotti del Picchia e Tarsila do Amaral. Durante esse período, Tarsila e Oswald iniciaram um relacionamento amoroso, oficializando casamento alguns anos depois. Foi nesse momento que Tarsila começou a produzir arte moderna. Suas viagens pelo Brasil (especialmente pelo interior de Minas Gerais e interior de São Paulo) renderam-lhe inspiração para suas primeiras composições de influência cubista, em formas geométricas estilizadas, fazendo uso das cores consideradas “caipiras” por seus mestres anteriores, ligados à pintura acadêmica.

No trecho a seguir, Tarsila exprime o seu compromisso com a busca de uma arte verdadeiramente brasileira e modernista: “Sinto-me cada vez mais brasileira: quero ser a pintora da minha terra. Como agradeço ter passado na fazenda minha infância toda. As reminiscências desse tempo vão se tornando preciosas para mim. Quero, na arte, ser a caipirinha (da fazenda) de São Bernardo, brincando com bonecas de mato, como no último quadro que estou pintando”. (Carta de Tarsila do Amaral à família quando da sua estada em Paris, em 1924).

Fases da Obra de Tarsila do Amaral

A obra de Tarsila do Amaral é dividida em 4 períodos:

1. Fase Pau-Brasil (1924/1928)

Aqui, Tarsila representa o Brasil rural e urbano em seus quadros. As obras dessa fase expõem a influência do cubismo e temas que são sobretudo sobre paisagens brasileiras, como: “Morro da Favela” (1924), “Carnaval em Madureira” (1924), “São Paulo” (1924) e “O Mamoeiro” (1925). Em 1925, Oswald lançou seu livro de poesias intitulado “Pau-Brasil” com ilustrações de Tarsila.

2. Fase Antropofágica (1928/1930)

Teve início a partir da icônica obra “Abapuru” (1928), cujo nome é a junção dos vocábulos “aba” e “poru” (significando “homem que come” em tupi-guarani). Pintado como presente de aniversário ao seu então marido, Oswald de Andrade, tornou-se muito mais que isso: foi a inspiração principal para a redação do Manifesto Antropófago e para o início de um movimento artístico que teve expoentes em diversos segmentos da arte nacional.

A ideia central do projeto antropófago era devorar as influências da cultura europeia, já que elas não se aplicavam às condições brasileiras, e a partir da deglutição, modificar o que foi devorado, produzindo arte verdadeiramente nacional. A pintura antropofágica de Tarsila mistura o aprendizado do cubismo com um universo de densidade mística e onírica, fazendo uso de cores vivas (como o vermelho, o roxo, o verde e o amarelo). Fazem parte também dessa fase: “O Ovo {Urutu}” (1928), “A Lua” (1928), “Floresta” (1929) e “Sol Poente” (1929) entre outras

3. Fase Social (Década de 30)

Depois de sua passagem pela União Soviética e de ter trabalhado como pintora de paredes de construção na França, após a Crise de 1929, Tarsila começou a refletir em suas obras temáticas relacionadas ao proletariado, à desigualdade social, às opressões sofridas pelos trabalhadores e aos problemas do capitalismo industrial.

O quadro “Operários” (1933) inaugura essa nova fase pictória, caracterizada pelo uso de cores mais sóbrias e acinzentadas (reflexo da desesperança daqueles que, embora trabalhando incansavelmente, não tinham acesso a bens básicos como saúde e educação). São considerados ícones dessa fase também os quadros “Segunda Classe” (1933) e “Costureiras” (1936).

4. Fase Neopau-Brasil (Década de 50)

Nessa fase, ocorre a retomada de Tarsila por temas nacionais. “Povoação 1” (1952), “Porto 1” (1953) e “Batizado de Macunaíma” (1956) estão entre as suas obras principais nesse período.

Tarsila do Amaral faleceu no dia 17 de janeiro de 1973 e deixou um grande legado no cenário nacional das artes plásticas.