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Anne with an E (Netflix): Uma pequena grande protagonista

Alcançando um grande sucesso desde o seu lançamento no catálogo da Netflix em 2017, “Anne with an E” é uma série adaptada da antologia de livros “Anne of Green Gables” da autora Lucy Maud Montgomery (publicada no final do século XIX). Nela, acompanhamos a trajetória de uma pré-adolescente que vivia em um orfanato, de onde partia para diversos lares que acabavam por mandá-la de volta, até que tudo muda quando é finalmente adotada por um casal que renova suas esperanças de encontrar uma família para si. A partir de alguns desentendimentos iniciais, os laços familiares vão se estabelecendo e a presença da jovem começa a transformar a rotina e a vida de todos ao seu redor.

Os destaques desta história bem sucedida não residem apenas em suas qualidades técnicas, mas na construção das relações estabelecidas entre todos os personagens, incluindo é claro a forte presença da protagonista que é Anne Shirley-Cuthbert (interpretada brilhantemente pela jovem atriz Amybeth McNulty). Percorrendo por temas atemporais como igualdade e respeito em uma sociedade machista, racista e xenofóbica (situações presentes ainda na humanidade mesmo cem anos depois), a série aborda durante suas três temporadas, através de um roteiro muito bem construído, o quanto comportamentos arcaicos e preconceituosos podem causar sérias feridas emocionais e sociais em nossa sociedade, especialmente nas mulheres.

Além disso, alguns fatos históricos são também muito bem utilizados para reforçar e validar a sua proposta narrativa, como por exemplo em sua última temporada: quando a personagem principal faz amizade com a jovem índia Ka’kwet (interpretada pela atriz Kiawentiio Tarbel) e acompanha o seu martírio a partir do momento em que é arrancada de sua tribo, pelo governo, para que passe a frequentar à força a doutrina de uma escola cristã, forçando-a a apagar toda a sua cultura indígena. Mas, como podemos acompanhar a cada episódio, o coração de Anne, sua energia contagiante e seus pensamentos progressistas nos levam a examinar nossos próprios comportamentos e buscar nossas próprias vozes.

Os figurinos e cenários da fictícia cidade de Avonlea representam com realismo os costumes da época, evocando a divisão de classes sociais e as características culturais de seus moradores. A produtora e roteirista de “Breaking Bad”, Moira Walley-Beckett, é a showrunner desta série que esbanja qualidade no desenvolvimento de cada um dos seus personagens, nos oferecendo a cada momento material suficiente para refletir, emocionar e inspirar pessoas, especialmente as meninas, a se aceitarem como são e irem em busca da realização dos seus projetos de vida.

Acompanhar a trajetória de amadurecimento de Anne e sua capacidade marcante de enxergar a realidade de uma forma única, poética e além do seu tempo, nos mostra que é possível nos reinventarmos como mulheres e transformamos o que às vezes nos possa parecer difícil ou imutável para que alcancemos os nossos objetivos e nos aceitemos como somos.Vale muito a pena conferir sua história!