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Livro: “Pequena coreografia do adeus”, de Aline Bei

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Uma dança poética sobre abandono, solidão e renascimento

Depois do grande sucesso de crítica e público com o seu livro “O peso do pássaro morto” (publicado pela editora Nós, em 2017), a escritora paulista Aline Bei lança pela Companhia das Letras o belíssimo romance “Pequena coreografia do adeus” (2021).

O livro é narrado em primeira pessoa por Júlia Terra, personagem que acompanhamos desde os seus primeiros anos de adolescência até sua vida adulta. Júlia apresenta uma convivência difícil com a mãe (Vera), uma mulher dura, ressentida e infeliz que nunca superou o fato de seu marido ter pedido o divórcio. A relação da protagonista da história com o pai (Sergio) é um pouco melhor, porém ainda que um tanto distante. A partir daí, a escrita de um diário torna-se o seu único consolo possível diante das suas dores de existência.

Uma narrativa sensível que mostra como nossas relações familiares moldam profundamente quem somos

Acompanhamos então, nas páginas do livro, o seu lento processo de autoconhecimento e autoaceitação ao longo da uma narrativa que exprime momentos de beleza e pura poesia (quase sempre partindo de imagens e sensações muito concretas). Mesmo assim, ela não omite as descrições cruas, duras e ásperas quando são necessárias. Entre as suas lembranças da infância e da adolescência, além dos sonhos para o futuro, Julia vai encontrando pelo caminho alguns personagens essenciais para enfrentar seus traumas familiares e a sua solidão, ao mesmo tempo em que ensaia a sua própria coreografia para encontrar o seu lugar em um mundo cada vez mais fragmentado.

Dividido em três capítulos, o livro passa por cada fase da vida da protagonista, nos revelando a jornada em que foi colocada involuntariamente e as inúmeras cicatrizes que transbordam em cada linha escrita. “Pequena coreografia do adeus” nos apresenta uma prosa lírica e carregada de uma grande sensibilidade, mostrando como a toxidade familiar e as dores do abandono (causadas por aqueles que deveriam ser os primeiros a nos amar e proteger) podem moldar quem somos e nossas formas de lidar com os movimentos de aproximação e afastamento de nossas relações.

Nessa sensível e profunda história feminina, Aline Bei mais uma vez se afirma como uma escritora dedicada a fazer da literatura um instrumento a serviço das mulheres. Vale muito a pena ler!

Aline Bei nasceu em São Paulo, em 1987. É formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em Artes cênicas pelo Teatro-Escola Célia Helena. Seu romance de estreia, “O peso do pássaro morto” (2017), foi vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura e do Prêmio Toca, além de finalista do Prêmio Rio de Literatura.