As mulheres são uma força vital em todas as esferas da nossa sociedade, desempenhando papéis significativos na economia, na política, na medicina, na ciência, nas artes, na educação e na cultura. No entanto, foram subestimadas, marginalizadas e oprimidas ao longo da história unicamente por causa de seu gênero.
Apesar dos muitos avanços já conquistados nas últimas décadas, ainda temos a consciência de que há muito a ser feito em todo o mundo para garantir que as mulheres tenham acesso irrestrito aos mesmos direitos e oportunidades dedicados aos homens.
O Dia Internacional da Mulher nos lembra como é importante reconhecer essas questões e trabalhar juntos para alcançar a igualdade de gênero. Por isso, a Opinion Box realizou uma pesquisa exclusiva com mais de 2 mil pessoas (sendo mais de mil mulheres) para traçar um panorama preciso sobre a realidade da mulher brasileira. É um trabalho mais do que necessário para que olhemos o universo feminino de acordo com o tamanho da sua grandeza e importância para a evolução da nossa própria sociedade como um todo.
Conheça algumas percepções e perspectivas das mulheres brasileiras
– Gravidez e maternidade no trabalho
A gravidez e a maternidade são experiências transformadoras na vida de uma mulher, mas também trazem desafios significativos para as mulheres que trabalham fora de casa. Muitas de nós ainda enfrentam discriminação no seu local de trabalho durante a gravidez e após o nascimento de filhos (falta de proteção contra demissão, redução de salário, menos oportunidades de promoção e falta de flexibilidade no trabalho).
A pesquisa da Opinion Box mostrou que os obstáculos das mulheres começam antes mesmo de entrar em uma empresa (já acontecem logo na entrevista de emprego). Mais de 60% das mulheres já foram perguntadas se são mães em uma entrevista e 40% já foram questionadas se estavam grávidas ou se pretendiam engravidar. Ambos os dados relacionados às entrevistas podem estar ligados a estatísticas ainda mais preocupantes: 38% das mulheres disseram já ter perdido uma oportunidade de trabalho por serem mães e 13% por estarem grávidas.
– Machismo e assédio contra mulheres
De modo geral, na pesquisa efetuada pela Opinion Box, o comportamento dos homens diante das perguntas relacionadas ao machismo mostrou-se bastante curioso: mais da metade dos homens concordou, por exemplo, que o Brasil é um país realmente machista. Olhando positivamente, esse dado pode ser encarado até como fruto de alguma conscientização em torno da questão no Brasil. Porém, quando a análise foi sobre o seu próprio comportamento apenas 27% dos entrevistados assumiram que já se pegaram cometendo atitudes machistas em relação às mulheres. Já quanto à opinião das mulheres (que estão do lado que sofre a opressão do machismo), o que chamou a atenção na pesquisa foi que mais homens se disseram engajados na luta contra o machismo do que as mulheres: são 49% deles contra 43% de mulheres que se consideraram realmente engajadas.
– Mansplaining e manterrupting
Mansplaining e manterrupting são dois termos que se referem a comportamentos machistas que podem ocorrer em ambientes profissionais, acadêmicos e sociais, onde alguns homens interrompem ou explicam algo de forma condescendente para mulheres, sem considerar ou dar espaço para a opinião delas.
O que as mulheres entrevistadas revelaram na pesquisa da Opinion Box é que as duas práticas são bastante comuns, especialmente no local de trabalho. 2 em cada 3 mulheres afirmaram já ter sofrido mansplaining ou manterrupting, sendo que a maioria dos casos aconteceu no seu ambiente de trabalho. O ambiente acadêmico foi o segundo mais citado em ambos os casos, registrando mais de 30% das ocorrências de mansplaining e manterrupting.
O que esses dados revelam é que não apenas o mansplaining e manterrupting são comuns, mas acontecem principalmente em lugares onde as mulheres são historicamente a minoria. Tanto no ambiente de trabalho quanto no meio acadêmico, é urgente que a cultura seja moldada para evitar esse tipo de comportamento (o que pode realmente inibir, prejudicar a formação e a performance das mulheres inseridas nesses locais).
– Carreira e mercado de trabalho
Conforme sabemos, mulheres têm sido historicamente excluídas de certos setores e cargos no mundo inteiro (muitas vezes, enfrentamos barreiras como o preconceito de gênero, a falta de flexibilidade no ambiente de trabalho e a falta de suporte na conciliação da vida profissional e pessoal). Pesquisas mostram, inclusive, que muitas mulheres costumam ganhar menos do que homens em cargos semelhantes. Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a importância da legislação de transparência salarial apontou que, globalmente, as mulheres ganham salários em média 20% menores do que os homens.
Na pesquisa realizada pela Opinion Box, o dado que mais chamou atenção, dizia respeito às condições e oportunidades das mulheres no mercado de trabalho. Na opinião das entrevistadas, quanto à avaliação do seu momento profissional atual, a maioria considerou que embora nas empresas onde trabalham as condições e oportunidades são iguais, apenas 50% das empresas têm menos mulheres em cargos de liderança. Ou seja, as condições podem até ser boas, mas ainda existem menos mulheres sendo promovidas para liderar equipes. Além disso, na hora de receber o pagamento, também existe uma diferença salarial notável: segundo 23% das mulheres entrevistadas, o salário delas é menor do que o dos homens em cargos semelhantes na empresa onde trabalham.
Em resumo, é fundamental que as organizações criem um ambiente de trabalho mais justo e inclusivo para que as mulheres possam alcançar todo o seu potencial para contribuir efetivamente para a economia e a sociedade em geral.
– Assédio no trabalho
Infelizmente, a realidade alarmante que a pesquisa da Opinion Box nos traz é que boa parte das mulheres sofre com o assédio dentro do seu ambiente de trabalho. Segundo as entrevistas realizadas, o assédio moral é mais comum e atinge 4 em cada 10 profissionais, enquanto 23% reportam que já foram vítimas de assédio sexual no trabalho. Além da gravidade dessas situações expostas, ainda existe bastante estigma e falta de apoio às vítimas. A maior parte disse que não reportou às lideranças da empresa sobre o assédio sofrido no trabalho.
Entre as pessoas que alegaram ter sofrido assédio sexual, passa dos 70% o percentual de mulheres que não reportaram o caso. Também chama a atenção negativamente que uma parcela significativa diz não ter sido apoiada pela empresa após o relato. É urgente, então, que as empresas e seus gestores não apenas garantam espaços seguros para as mulheres, mas também um ambiente em que elas se sintam seguras para reportar o assédio.
O que as mulheres realmente esperam das marcas?
As marcas precisam entender que as mulheres, enquanto consumidoras, têm as suas próprias necessidades e desejos. Assim, é fundamental perceber que nós já estamos cansadas dos estereótipos e, se podemos dar uma dica valiosa às empresas, é que tenham uma mudança de atitude e de percepção sobre quem somos. Basta de associar a mulher apenas aos produtos de beleza, roupas e cuidados com a casa. Essa imagem de feminilidade, nas quais as marcas costumam se apoiar, já está bem ultrapassada. É fundamental também, especialmente quando falamos sobre o Dia das Mulheres, que as marcas se posicionem em relação ao real significado da data. Não vale apenas dar os parabéns para nós e ignorar os dados obtidos na pesquisa da Opinion Box. Essa data diz muito mais respeito sobre a nossa luta pela igualdade de gênero.
O que nós, mulheres, precisamos é deixar de ser objetificadas em qualquer esfera (tanto na publicidade quanto em cada ação do dia a dia). Esse tipo de comportamento só reforça o pior do machismo e ajuda a perpetuar as barreiras e os obstáculos que as mulheres enfrentam ainda em nossa sociedade. A transformação começa em cada um de nós, homens e mulheres!