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O que é “blackfishing” e a relação com os artistas

Cada vez mais o termo “blackfishing” vem aparecendo nos noticiários internacionais para descrever o comportamento de alguns artistas brancos que parecem imitar a aparência de pessoas negras. Um dos exemplos mais recentes dessa prática vem da estrela pop australiana Iggy Azalea, que atraiu pesadas críticas por seu visual em seu novo videoclipe.

Neste artigo, iremos falar um pouco sobre esse tema que vem chamando a atenção de vários críticos pelo mundo.

Mas, o que é mesmo o “blackfishing”?

Esse termo começou a ganhar destaque a partir de um tópico do antigo Twitter há uns dois anos, quando a jornalista Wanna Thompson notou que algumas celebridades e influenciadores brancos estavam fazendo cosplay de mulheres negras nas redes sociais.

“Blackfishing” é quando algumas figuras públicas brancas, influenciadores e similares fazem todo o possível para parecerem negros”, disse Thompson à CNN. “Pode ser por bronzear a pele em excesso, na tentativa de atingir ambiguidade e usar estilos de cabelo e roupas que foram notabilizadas por mulheres negras”.

Os críticos então descreveram a atitude como uma forma de “blackface” (ato antigo de pintar o rosto para parecer negro), dizendo que ela cria um paradoxo perigoso ao celebrar a beleza e a estética negras, mas apenas quando destacadas pelos brancos. “Em vez de valorizar a cultura como espectador, há a necessidade de possuí-la, de participar dela sem querer a experiência plena da negritude e da discriminação sistêmica que vem com ela”, explicou Thompson.

Quais foram os últimos casos de “blackfishing” registrados na imprensa internacional?

Além da artista pop Azalea ser acusada de se apropriar da cultura negra desde que a sua carreira decolou há uma década (loira típica, ela usa uma peruca escura no videoclipe de seu novo single “I Am the Stripclub” e aparece com a pele mais escura do que o normal), uma outra celebridade norte-americana aparece nos holofotes quanto a esse assunto: Kim Kardashian.

Em 2017, antes que o termo “blackfishing” existisse, ela imitou a ex-primeira-dama Jacqueline Kennedy Onassis para uma foto de capa que, segundo alguns, fez Kardashian ter a pele mais escura do que o normal. Nessa mesma época, os críticos também a acusaram de “blackface” por conta de uma série de anúncios para sua linha de maquiagem. “Eu obviamente nunca quis ofender ninguém”, disse a celebridade, que possui ascendência armênia, sobre a sessão de fotos. “Eu usei um fotógrafo incrível e uma equipe inteira. Estava muito bronzeada quando tiramos as fotos e pode ser que o contraste não tenha funcionado”.

Outra artista norte-americana também enfrentou uma reação semelhante por parte dos críticos em 2019: a cantora de ascendência italiana, Ariana Grande. Isso ocorreu durante um ensaio de capa para a revista “Vogue”, no qual, segundo alguns, sua pele parecia mais escura. Há também o caso do cantor Bruno Mars, que tem se defendido contra acusações de se apropriar da cultura negra tanto na música quanto no visual. Em 2018, a escritora e ativista Seren Sensei disse que o artista “exagera sua ambiguidade racial para cruzar gêneros”.

Mas por que alguns artistas e celebridades usam o “blackfishing”?

Segundo alguns estudiosos sobre o tema, quando artistas, celebridades e influenciadores das mídias sociais parecem ser mestiços ou racialmente ambíguos, novas oportunidades de marketing podem surgir (já que eles passam a ser considerados “elegantes e exóticos” pelas marcas). Para a jornalista Thompson (criadora do termo), algumas pessoas que se utilizam do “blackfishing” se sentem no direito de usufruir a cultura negra e a usam para obter ganhos sociais e monetários.

Como o “blackfishing” se diferencia da apropriação cultural?

Na verdade, “blackfishing” e apropriação cultural estão interligados. Para a jornalista Thompson, um não existe sem o outro. Conforme o Cambridge Dictionary, apropriação cultural é “o ato de pegar ou usar coisas de uma cultura que não é a sua, especialmente sem mostrar que você entende ou respeita essa cultura”.

Diversas celebridades brancas, por exemplo, já foram criticadas por pentearem seus cabelos em tranças ou dreadlocks (estilos tradicionalmente utilizados pelas pessoas negras). A escritora e palestrante Feminista Jones descreveu a apropriação cultural como quando pessoas com poder e privilégios pegam costumes e tradições que oprimiram e marginalizaram outros grupos e os redirecionam como algo “novo e na moda”.

“As pessoas não respeitam a cultura negra. Elas acham que ela pode ser conquistada e pega, que podem participar dela e explorá-la porque ela foi mercantilizada”, disse Thompson. “Vemos isso em todos os aplicativos de redes sociais, mas cada vez mais no Tik ToK”.

O que podemos observar é que existe um grande debate sobre esse assunto. O fato é que quando as pessoas mudam sua aparência com maquiagem, cirurgia estética ou uma edição digital para parecerem negras, isso vai muito além da apropriação cultural. Isso é “blackfishing”. E você, leitora, o que acha?